sexta-feira, 25 de maio de 2007

Os Níveis Inventivos


Altshuller, o criador da TRIZ, estudou patentes de diferentes áreas, com o objetivo de buscar alternativas mais eficazes aos métodos para a solução criativa de problemas até então disponíveis – o brainstorming e o método morfológico. Esta abordagem diferenciou-se das anteriores por focalizar-se nos registros do produto criativo das áreas técnicas: as patentes. Altshuller e, posteriormente, seus colaboradores, procuraram definir quais os processos envolvidos na obtenção das soluções criativas contidas nas patentes. Assim, através do estudo das patentes foram sendo encontradas regularidades, colecionadas com o intuito de uso para a solução de futuros problemas.

Durante o desenvolvimento da TRIZ, Altshuller acreditava estar criando uma metodologia universal para a solução de problemas inventivos, ou seja, problemas que envolvessem a resolução de uma contradição. Deste modo, focou sua pesquisa por heurísticas, princípios e leis nas invenções consideradas de alto nível inventivo, com base na classificação resumida na tabela abaixo (clique para ampliar).

O nível 1 corresponde às patentes que descrevem a resolução de problemas rotineiros, limitadas a pequenas mudanças em relação ao estado da técnica. As invenções de nível 2 envolvem um pouco mais de conhecimento por parte do inventor, mas, ainda sem a introdução de conhecimento de áreas remotas e sem que tenha ocorrido a resolução de uma contradição. Invenções de nível 3 representam mudanças mais significativas, muitas vezes com a introdução de elementos que eram estranhos à indústria em questão e envolvem a remoção de contradições. O nível 4 corresponde àquelas invenções que, praticamente, nada têm a ver com o estado da técnica, ou seja, utilizam princípios de funcionamento diferentes dos tradicionais e, portanto, estão criando novos paradigmas tecnológicos. Finalmente, as invenções de nível 5 correspondem ao resultado de pioneirismo científico e tecnológico, ou seja, são as invenções somente possíveis pela aplicação da descoberta de um novo fenômeno ou efeito.

A forma de classificar uma invenção numa categoria ou outra foi baseada nos critérios:

- do número estimado de tentativas que seriam necessárias para chegar à solução inventiva, usando processos de geração livre de idéias, como o brainstorming;

- do escopo do problema e dos meios de solução – situado dentro da área de conhecimento do inventor e do corpo de conhecimento da indústria em que atua ou em áreas remotas;

- da existência ou não de uma contradição na situação problemática original.

A classificação dos níveis inventivos carece de formalidade, mas, cumpriu o papel para a qual foi criada: permitir a limitação do número de patentes a serem analisadas e o foco do desenvolvimento da TRIZ nas patentes de níveis mais altos (3, 4 e 5).

Para Altshuller, a TRIZ deveria ser utilizada para resolver problemas dos níveis 2, 3, 4 e 5. Problemas do nível 1 não necessitam ser resolvidos com o uso da TRIZ.

2 comentários:

Gustavo Augusto disse...

Bom Marcos,
Sou aluno de mestrado em engenharia de produção da UFF no Rio de Janeiro e venho lendo muito sobre os seus estudos e os do Nelson Back, pois sou formado em design de produto e tenho muito interesse em processos criativos e de resolução de problemas. Estou tentando definir um assunto para a minha dissertação nessa área, mas até agora não consegui me decidir.
Enfim, vamos a uma pergunta: Você não acha que, uma vez que a TRIZ se baseia fortemente no que já foi criado, e capta do conceitos e padrões de produtos e processos já existentes, ela não se torna uma metodologia "fraca" para quem busca inovações radicais, coisas nunca antes feitas?

Forte Abraço,
Gustavo Augusto

Marco de Carvalho disse...

Gustavo,

me desculpe a demora na resposta. Estive priorizando a finalização do meu doutorado, nos últimos meses.

Para embasar a metodologia de ideação que propus na tese (Metodologia IDEATRIZ para a Ideação de Novos Produtos), utilizei dados que coletei desde 2000, aplicando métodos de ideação com alunos de graduação, pós e profissionais. Comparei os métodos da TRIZ com os outros métodos para ideação existentes (brainstorming, pensamento lateral, synectics, etc.).

A conclusão a que cheguei é de que os métodos da TRIZ são muito mais eficazes em termos de produção de idéias criativas (definidas como idéias originais E úteis). Por exemplo, um dos métodos da TRIZ, a Análise Su-campo, conduziu a uma média de 53% de idéias criativas, contra cerca de 20% do brainstorming.

Evidências coletadas anteriormente, por R. Horowitz, também indicam que os processos heurísticos são mais eficazes do que os tradicionais métodos de ideação intuitivos e sistemáticos.

Portanto, eu discordo da tua posição.

Também é importante considerar que estamos falando de ideação e não de inovação, que é um processo mais abrangente.

Boa sorte no teu mestrado!

Cordialmente,

Marco Aurélio de Carvalho, Eng.Mec, Me., Dr.